Apenas o silêncio escuta o meu canto,
quando a noite se chega em teu lugar,
e a minha boca ela se põe a beijar,
amordaçando-me o grito do pranto.
Procuro-te, em desvario, nos braços dela,
com olhos de espera e lábios desertos.
Meus pés nus, esmagando o chão, incertos,
em vão, levam-me o peito à janela.
De séculos, esse tempo soturno
sangra cada minuto, em vã miragem.
E o desejo ansioso te faz imagem
no devaneio do meu oásis noturno.
Ouço, até, teus passos, na noite enorme
de sonhos acre-doces e ansiedades.
Na planície do silêncio, as saudades
ecoam, sem fim, enquanto o mundo dorme.
As horas, como as contas de um rosário,
vão terçando a madrugada, em ladainha.
Na manhã, esta dor que é toda minha
ficará à sombra do meu calvário.
Vou te esperar até o sol se pôr,
para que a noite não me silencie mais.
Quando vieres, não venhas tarde demais,
pois já terei te esquecido de dor.