Tempo de espera
José-Augusto de Carvalho
Quando a lágrima vem e desliza
No meu rosto cavando o seu leito,
A saudade é de sal e de brisa
Nesta angústia a doer-me no peito.
Olho o barco do sonho desfeito
Que a memória ferida exorciza:
Que fantasma, a rasgar o meu peito,
Mais e mais a saudade enraíza.
Não há tempo de fel que me dome.
Neste tempo outro tempo se gera
P’ra que a vida o seu rumo retome.
Que este tempo de fel e de espera
Ganhe ao verde esperança o seu nome
E me torne outra vez primavera!
12 de Setembro de 2011.
Viana*Évora*Portugal
***
No tempo que espero
Lizete Abrahão
Foi-se o tempo. Entre as fendas do muro
Correm lágrimas puras ao léu;
Do meu sonho acordei, mundo escuro,
Já morrera a manhã do meu céu...
A saudade cravou-se em meu peito
Como lenho na beira da cova;
Bebo o fel em que o vinho foi feito
E o amargo entre os dias me prova.
Quero um beijo com gosto de mar,
Uma flor-esperança, uma taça
E um poeta no cais a cantar...
Vou provar desse sal em teu rosto,
Dos olores beber e ser graça,
Para em verso sentir o teu gosto...
Porto Alegre/RS
12.09.2011
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