Neste espaço se divulga a actividade do grupo restrito CantOrfeu.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

02.14 - Poetas * Geraldes de Carvalho * ...amarelou













O cisne quando cantou
amarelou.


Ele sabia que era
um cisne
e não sabia cantar
por isso teve de amarelar
para se disfarçar.


Cantava assim :


Quem me dera não ser cisne
negro ou branco
não queria...

Sei que sou belo é verdade
mas não canto.


Nem parece que sou ave
esta é a realidade.


Posso pensar,
já se sabe,
mas pensar
não é próprio
de mim
que sou ave
assim, assim
mas não canto...


Posso exibir
meu pescoço
longo
flexível
esguio
próprio de deusa
...e cantar
mas não canto.


Seria bom existir
mesmo no fundo do poço
sem que ninguém o soubesse
se ali pudesse estar
a cantar
- cantava ele
sem que porém, o soubesse -.


E amarelou
sem saber que amarelava.


E pensou
mas não sabia
que pensava.


Era cisne
e lhe bastava.


Mas como não parecia
e tinha uma graça tanta
encantava
espantava
quem o via,
quem o ouvia.


Será que ainda hoje espanta?

Será que ainda hoje encanta ?

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